Há mais de quatro anos que eu não meditava, que eu não voltava para o meu recanto, meu local de descanso.
Primeiro eu tenho que descrevê-lo, se é que há uma descrição pára um lugar tão maravilhoso...
Imagine uma paisagem natural, uma cachoeira, um lago em um vale cheio de árvores. Mas nessa paisagem parece ser apenas um pedaço vagando no espaço. Não há nada além dessa paisagem, apenas o que tem nela... a única coisa que parece estar conectada com outro universo é a fonte da cachoeira.
O engraçado é que não há fonte. Imagine que, do espaço despenca uma cachoeira infinita, que termina em um rio, que por sua vez termina em outra cachoeira. Essa segunda cachoeira de fato é uma cachoeira, pois a primeira não tem sentido, ela vem de lugar nenhum, então não é completa. Mas a segunda, ela vem do rio, e termina num lago.
O Lago abriga uma grande enguia, ela sempre esteve lá, desde a minha primeira meditação. É a primeira criatura que me deparei nesse mundo, e apesar de eu ainda não desvendá-la ela ganhou um novo sentido na ultima meditação. No fundo do lago também deveria haver um frasco com um líquido azul brilhante, mas ele não esta mais lá agora.
E o lago não é a coisa mais importante desse cenário. nem a mais bonita ou chamativa. O meu lugar preferido e de descanso é um grande, enorme, gigantesco Carvalho. Ele se destaca das outras árvores, e sempre que olho pra ela imagino como seria a Yggdrasil. É nela que eu moro.
Mas não foi no Lago, no Carvalho ou na Cachoeira que comecei a minha caminhada desta vez. Foi na Caverna.
A Caverna é quente e seca, não úmida como se imagina qualquer caverna de inicio. Foi lá que estive da ultima vez, talvez por isso que apareci por ali desta vez. Da ultima vez, resolvi visitar esse mesmo lugar pelo mesmo motivo que agora, mas não pela mesma pessoa. Meu namoro estava em crise e eu queria saber o que poderia fazer para melhorar. Mas não importa o que aconteceu antes, pode ser que um dia eu conte. O que importa é que a flor que tentou brotar na Caverna morreu, mas seus restos continuam lá para perpetuar o local com a sua presença.
Logo eu saio da Caverna, e avisto o Carvalho, lindo como sempre. Mas noto algo que nunca havia composto o cenário antes, algo que eu sempre gostei na Realidade mas nunca esteve no meu Recanto. Deu vontade de chorar com aquela presença alienígena, mas a curiosidade tomou conta do meu ser, e resolvi persegui-la, desvendar seu mistério.
Quando me aproximei, ela voou, e minha curiosidade aumentou, então a segui. Ela era rápida, eu mal conseguia alcança-la, então resolvi alçar voo também. Ainda assim não conseguia me aproximar, por ela era pequena e passava pelos galhos do Carvalho com facilidade, ignorando folhas e galhos menores. Então resolvi fazer o mesmo: comecei a cortar os caminhos quebrando galhos, até mesmo atravessei uma parte do tronco, e finalmente peguei aquela coruja teimosa.
Eu ri, me senti aliviado finalmente por ter conseguido o que eu queria. Mas no mesmo momento me bateu a desolação, e eu me virei para o Carvalho. Ele estava todo machucado, quebrado e mal cuidado. Será mesmo que aquela curiosidade valia tanto a pena? A coruja já não tinha o mesmo encanto agora presa nos meus dedos. Ela parecia sofrer, perdida em um mundo que provavelmente não queria estar. Eu a solto, mas agora que a toquei posso atraí-la quando quiser. Só preciso saber o que fazer com ela. Começo a procurar outras diferenças no cenário, e percebo que o Lago está diferente. a água está correndo ao contrário. Quando me aproximo percebo que a Enguia está quase morta, e também noto o desaparecimento do frasco. Posso concertar o fluxo da água, os galhos do Carvalho, e salvar a Enguia, mas o cenario nunca será como antes.